Mulheres na Logística
A importância do papel feminino neste mercado de trabalho e os desafios enfrentados por Elas.
Uma pesquisa realizada em 2021 pelo Departamento Nacional de Transportes (DNTI), revelou que o Brasil conta com 25,8 milhões de motoristas mulheres, o equivalente a apenas 35% do total de Carteiras Nacionais de Habilitação (CNH) válidas no país. Na condução de veículos pesados, a participação é ainda menor. Segundo a Senatran, 182 mil mulheres têm habilitação para dirigir caminhões, o que corresponde a 6,5%.
Em justificativa, a Associação Brasileira de Medicina de Trânsito (Abramet) apontou que ao menos 2 milhões de brasileiros gostariam de dirigir, mas têm medo. 80% são mulheres. Elas ainda são grandes vítimas de preconceito e machismo no trânsito. Segundo especialistas, essa discriminação impacta em suas visões sobre a mobilidade urbana e resulta em pouco incentivo para dirigir.
Hoje, apesar do cenário do mercado logístico continuar predominantemente masculino, é possível observar as transformações e notoriedade do gênero feminino nas estradas. Através de uma visão estratégica e tática, a logística abriu suas portas para que as mulheres pudessem conquistar de vez um espaço que, anteriormente, não era possível.
A última edição da Transport Logistic, feira mundial de logística, mobilidade, TI e gestão da cadeia de suprimentos, apontou um aumento de 20% na contratação de mulheres motoristas dentro de grandes empresas mundiais. Em 2020, houve um crescimento de 229% no volume de contratação do sexo feminino em áreas da logística, de acordo com dados da plataforma de recrutamento e seleção Gupy.
Entre os inúmeros benefícios da presença feminina nas operações está o aumento da segurança. É comprovado que as mulheres se envolvem menos em acidentes de trânsito. Em 2015, a Federal Motor Carrier Administration relatou que elas são responsáveis por apenas 2% do total de fatalidades que resultaram na morte do condutor envolvido.
Em entrevista a NBC, rede de televisão e de rádio comercial americana, a presidente e executiva-chefe da Women in Trucking Association, Ellen Voie, comentou que as mulheres geralmente são melhores com os clientes, com a papelada, com o equipamento e, muitas vezes, mais fáceis de treinar.
A motorista Andréia Kochenborger, 38, trabalha há seis anos com caminhões e iniciou sua jornada na GAFOR Logística em novembro de 2022. Ela compartilhou que descobriu sua vocação ainda nova:
“Minha família toda é de motoristas. Minha ambição vem desde a infância, sou apaixonada pela profissão. Meu pai me dizia que eu precisava estudar, por ser mulher e também sua filha mais nova. Então, eu estudei e hoje sou formada em Processos Gerenciais. Mesmo assim, escolhi lutar pelo meu sonho. Apesar de tanto preconceito e muita falta de estrutura para as mulheres, eu consegui”.
Durante seus anos de estrada, Andréia declara que já passou por diversas situações de machismo e vieses de gênero. “Comumente me encontro em um local difícil de estacionar o caminhão. Em uma dessas vezes, quem estava ao entorno não acreditou que eu conseguiria. Engatei a marcha e estacionei perfeitamente”, contou ela ao ser questionada sobre alguma situação marcante ao longo de sua carreira.
“Existe muito preconceito ainda. Pessoas que acham que, por ser mulher, eu não sou capaz de exercer a função. Então vou lá e mostro que estão errados”.
Apesar de amar sua ocupação, Andréia não deixa de reconhecer os desafios envolvidos nesse caminho: “Trabalhar na estrada não é só embarcar no caminhão e dirigir. É saber enlonar, amarrar carga, entender o funcionamento do veículo e, várias vezes, abrir mão da vaidade. Se, mesmo com tantas adversidades, você ainda sonhar em ser motorista, corra atrás que você irá conseguir. Não desista!”.
Julize Antunes Porto, 41, é nascida e moradora de Uruguaiana/RS. Ela se tornou parte da Operação Internacional da GAFOR em outubro de 2022 e, além de seu primeiro emprego como motorista, essa é a realização de um desejo de criança:
“Pude ver muitas mulheres no volante, grandes profissionais e, por isso, nunca medi esforços para realizar meu sonho”, contou ela.
Ela acredita que, mesmo em passos curtos, as mulheres estão conquistando cada vez mais espaço neste meio: “Estamos mostrando que somos capazes de exercer a mesma profissão que os homens, sem distinção de cargo ou força física”, afirmou. Entre as maiores adversidades enfrentadas pelo gênero, ela destaca a estrutura e insegurança:
“Os desafios são diários. A falta de estrutura para nós, mulheres, como banheiros femininos, e também a insegurança de, muitas vezes, estarmos em lugares onde a grande maioria são homens”.
Ela destaca que, para crescer, é preciso ter ambição e dedicação, e reforça que cursos de profissionalização na área de motorista são grandes diferenciais hoje em dia, além de excelentes ferramentas para aprendizado e quebra de tabus: “Somos capazes de sermos tão boas quanto, ou mesmo melhores, que os homens”.
Já Luciana Nekel Laskoski, 41, nascida e criada em Campo Largo, começou sua carreira como motorista na GAFOR há 7 meses, fazendo parte das Operações Internacionais. Assim como Andréia e Juzile, a escolha de sua vocação partiu de uma paixão cultivada desde jovem.
Em seu dia a dia, ela afirma que estar alerta e se precaver é uma atitude muito importante, principalmente para o gênero feminino: “Por estarmos quase sempre sozinhas em meio a muitos outros homens, nós, mulheres caminhoneiras, enfrentamos diversas situações de assédio ao longo da carreira. Eu procuro ser bastante cautelosa, cuidando de tudo e de todos”, constatou. Além disso, ela pontua os riscos de assalto, a distância da família e o desconforto sofrido nas estradas por falta de estrutura adequada como problemas comuns: “Muitos pontos de repouso são desfavoráveis para nós. Em alguns, sequer existe um sanitário feminino”.
Apesar das dificuldades enfrentadas nestes cenários, Luciana tem uma visão otimista sobre o futuro das mulheres na logística:
“Podemos observar que, em cada dia, está se expandido o número de mulheres motoristas. Acredito que nos destacamos pelo cuidado, responsabilidade e atenção redobrada. Isso faz com que nos posicionemos cada vez melhor no mercado de trabalho”, contou.
Por fim, seu recado para todas aquelas que gostariam de seguir com o pé na estrada é o mesmo de suas colegas, tornando-se uma opinião unânime: para alcançar seus objetivos, é preciso não desistir.
“É preciso ir à luta e combater os obstáculos à frente. Somos capazes de qualquer coisa, desde que saibamos enfrentar e contornar cada situação pelas quais passamos diariamente, em condições boas ou ruins. Esse é o caminho para o sucesso”.